FOTOGRAFIA ULTRAVIOLETA
A luz ultravioleta (UV) é a parte do espetro eletromagnético com comprimentos de onda apenas um pouco mais curtos do que os da luz visível. Quando falam de luz ultravioleta, a maior parte das pessoas referem-se aos seus tipos UVA e UVB, que se encontram no intervalo entre 0.3 e 0.4 Mícrones (300 a 400 nm). O equipamento fotográfico de hoje consegue utilizar a luz UV para produzir imagens, como com qualquer outra luz visível ou perto do visível.
Ilustração das diferenças em tipos de luz ultravioleta.
Filtro UV e lâmpada UV correntes.
A fotografia ultravioleta pode ser efetuada com película normal a cores ou a preto e branco, bem como com câmaras digitais. De facto, quase qualquer câmara pode ser utilizada. O único equipamento especial realmente indispensável são os filtros UV para a lente da câmara e uma fonte de luz UV.
Não obstante, existem câmaras multiespectrais de gama mais alta, como o sistema ARTIST da Art Innovation, para realizar fotografia UV dentro do orçamento de laboratórios e instituições de média dimensão.
Existem dois tipos de fotografia que podem ser realizados com luz UV para objectivos forenses. O primeiro é a refletografia UV (UVR). Com a UVR, simplesmente ilumina-se uma obra com luz UV, e fotografa-se a imagem resultante com recurso a uma câmara com filtro de lente UV. Como diferentes materiais demonstram diferentes níveis de opacidade sob luz UV, quando comparada com a luz visível e com a infravermelha, a UVR pode fornecer indícios sobre a composição material dos pigmentos. A UVR também é uma boa escolha para a análise dos pormenores e texturas da superfície.
Nas pinturas, o segundo tipo de fotografia UV é uma técnica muito mais útil; trata-se da fluorescência de raios UV (UVF). A fluorescência ocorre quando um material é sensível à luz UV. O material absorve alguma luz UV, mas apenas um pouco de cada fotão. Os fotões resultantes então retransmitidos pela pintura são emitidos no espectro visível. Ao contrário da luminescência, a fluorescência só existe enquanto houver uma estimulação direta com uma fonte UV.
A chave para a fluorescência UV enquanto ferramenta forense é que nem todos os materiais são capazes de fluorescência. Por exemplo, em obras de arte e pinturas, foi descoberto que os vernizes antigos têm fluorescência, enquanto os vernizes novos não têm. E também as tintas e os pigmentos mais antigos tendem a apresentar muito mais fluorescência do que os mais modernos. Neste sentido, com a UVF torna-se muito fácil encontrar retoques numa pintura antiga. As áreas retocadas vão aparecer como manchas pretas numa fotografia UV da obra de arte.
Uma análise da pintura “Mignon”, por William Bouguereau, mostra as áreas mais escuras onde foi utilizada tinta nova para retocar a obra.
A Virgem e o Menino, da oficina de Dirck Bouts. A primeira imagem é a pintura original, a segunda é uma vista de perto da Virgem em fotografia a preto e branco com UVF.
A Virgem e o Menino, da oficina de Dirck Bouts. A primeira imagem é a pintura original, a segunda é uma vista de perto da Virgem em fotografia a preto e branco com UVF. Os pontos pretos e os enrugados verticais mostram as áreas em que a pintura foi retocada no passado.
Similarmente, identificar uma pintura falsa pode ser tão simples como observar que o verniz utilizado na obra de arte não tem uma fluorescência tão brilhante como o esperado, mas sim de uma cor muito mais escura.
Com a fotografia UVF a cores, podemos acumular ainda mais informação. Alguns materiais comummente utilizados em períodos específicos das obras de arte podem ter uma fluorescência com cores muito precisas. Por exemplo, a goma-laca irá apresentar fluorescência com um tom cor-de-laranja particular, e, os vernizes mais antigos, uma fluorescência em tons esverdeados.
Restauro de um Picasso
Restauro do “Velho Tocador de Guitarra” de Picasso. O quadrado vermelho ilustra a área decapada na fotografia UVF, que mostra a diferença de fluorescência entre a tinta (azul escuro) e o verniz, depois de um teste de limpeza.
Noutro exemplo, o pigmento vermelho tradicional denominado madder (rubiácea) irá mostrar uma fluorescência diferente do carmesim de alazarina, uma tinta sintética de cor quase idêntica.
Fotografia de uma pintura com fluorescência de raios UV, que mostra diferenças de fluorescência no céu e na neve. Uma análise subsequente demonstrou que a diferença de fluorescência se deve a pigmentos diferentes.
Fotografia de uma pintura com fluorescência de raios UV, que mostra diferenças de fluorescência no céu e na neve. Uma análise subsequente demonstrou que a diferença de fluorescência se deve a pigmentos diferentes.
Contudo, a UVF enquanto técnica geralmente não é suficiente para fazer prova de retoques ou falsificações, por duas razões. A primeira é que os retoques ou as falsificações com mais de 200 anos não são, muito provavelmente, distinguíveis da pintura original. Em segundo lugar, apenas alguns materiais têm fluorescência, e por isso pode acontecer que uma imagem UVF de uma obra de arte possa não gerar informação relevante. Em resultado disto, a UVF só consegue ser uma ferramenta fiável para pinturas mais antigas quando essas pinturas têm um passado documentado dos restauros anteriores, ou quando a UVF é suplementada com outras técnicas de análise.
Devido à faculdade de identificar trabalhos de restauro anteriores, a fotografia de fluorescência ultravioleta é uma das principais ferramentas do conservador. No entanto, quase qualquer análise a uma pintura irá começar com UVF, simplesmente por ser um teste barato e muito rápido, que pode fornecer informações muito úteis, bem como ajudar na determinação da seguinte e apropriada técnica de análise.