FOTOGRAFIA DE INFRAVERMELHOS

O olho humano só consegue ver comprimentos de ondas eletromagnéticas entre .35 e .7 Mícrones, mas a tecnologia atual permite-nos visionar muito para além disso. O infravermelho é a parte do espetro eletromagnético que se encontra acima de .7 Mícrones (700 nanómetros) em comprimento de onda. A película sensível à parte infravermelha do espetro foi desenvolvida nos anos 30, através da adição de variadas tintas aos cristais de haleto de prata.

Como o infravermelho possui um comprimento de onda mais longo que a luz visível, pode ter diferentes capacidades de penetração em vários materiais. Alguns materiais que são opacos à luz visível, como as tintas e os óleos, tornam-se transparentes sob luz IR. Com a utilização de película IR sensitiva a fotografia de uma pintura pode parecer completamente diferente, devido à diferente opacidade dos materiais nos espetros visível e IR. Desta forma, a fotografia IR pode ser utilizada para ver por baixo de uma pintura, observando o que se encontra por baixo da tinta de uma maneira não destrutiva.

Estas imagens mostram o refletograma da cor verdadeira desta pintura, e o refletograma do infravermelho mais próximo (1000-1200 nm). As imagens foram adquiridas utilizando o sistema de imagem multiespectral Artist.

Em fotografia IR o sujeito tem que ser iluminado por uma fonte de luz cuja irradiação esteja bem dentro do espetro IR. Diferentes filtros podem ser utilizados na camera para bloquear total ou parcialmente a luz visível, como forma de alterar a imagem resultante. A fotografia IR funciona muito bem na observação de materiais altamente refletores de IR, como a grafite e o carvão. Isto faz com que a IR seja especialmente indicada para observar esboços preliminares, que os artistas rotineiramente fazem na tela antes de iniciarem a pintura. Esta é uma das razões mais valorizadas para a utilização da fotografia IR em investigação forense.

Contudo, devido aos comprimentos de onda utilizados, a fotografia IR não é capaz de penetrar pigmentos azuis e alguns tons de verde. Por isso, a fotografia IR tende a produzir bons resultados apenas em pinturas que tenham predominantemente tons brancos, castanhos e vermelhos, enquanto as zonas da pintura que sejam verdes ou azuis irão simplesmente aparecer negras.

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Moisés e o bosque em chamas e Gedeão e a lã, Albrecht Bouts, ca.1460-1549
 
Estas imagens mostram o refletograma da cor verdadeira desta pintura e o refletograma do infravermelho mais próximo (1000-1200 nm). As imagens foram adquiridas com o sistema multiespetral Artist.
 
     

Nos primórdios da utilização da fotografia IR, as fotos eram tiradas com uma película IR sensitiva; a película, tipicamente, era sensível a comprimentos de onda até 1.7 Mícrones. A utilização do espetro infravermelho para realizar análises só foi consolidada nos anos 60, com o desenvolvimento da Refletografia de Infravermelhos (IRR), pelo Físico Holandês J. R. J. van Asperen De Boer. O processo da fotografia IRR envolve iluminar uma pintura com uma lâmpada de infravermelhos, à semelhança do que acontece na fotografia IR tradicional. No entanto, ao invés da película enquanto médium sensitivo, é utilizado um detetor IR. Desta forma, a IRR consegue ser sensível a comprimentos de onda até 14 Mícrones. Tal é especialmente importante, dada a descoberta de que esboços preliminares feitos em grafite ou charcoal são muito mais sensíveis a comprimentos de onda IR entre dois e três Mícrones.

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A Virgem dos Rochedos, Leonardo Da Vinci. A imagem IRR mostrou dois esboços preliminares diferentes por baixo da pintura.
   

 

A técnica IRR original utilizava um sistema vidicon, que é essencialmente um televisor acoplado a um tubo IR sensitivo. A imagem no televisor era então fotografada, para a obtenção de um registo permanente da imagem. Como a televisão tinha uma resolução tão pobre, somente pequenas partes de cada pintura podiam ser visionadas de cada vez, sendo gerado um mosaico com todas as partes. A criação deste mosaico tendia à introdução de erros de tom e contraste, devido aos diferentes ângulos e à iluminação.

     
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Imagem realizada com o sistema vidicon
 
E a mesma imagem, utilizando o sinal analógico da camera e sua digitalização
 

Nos anos 90, foram desenvolvidos os sistemas de imagem CCD sensíveis ao espetro IR, que se tornaram rapidamente o detetor de primeira escolha. No entanto, a resolução ainda era pobre, e por isso estes detetores têm sido tipicamente utilizados num formato de scaneamento, semelhante à forma como a imagem de um televisor é desenhada por um tubo de eletrões em scaneamento.

As vantagens dos sistemas de scaneamento de refletografia IR sobre a fotografia IR são tremendas. Com os sistemas CCD, as imagens são digitais e imediatamente disponíveis. Já não é preciso aguardar a tal meia-hora que a revelação da película demoraria. Como a imagem resultante é digital, os dados produzidos pelos sistemas IRR também podem ser tratados pelas mais recentes técnicas de processamento de imagem.

Tal como com a fotografia IR, o IRR ainda não consegue penetrar pigmentos azuis; no entanto os tons verdes tornam-se transparentes, o que aumenta a utilidade dos sistemas IRR. Infelizmente, esboços preliminares feitos com médiuns como giz vermelho, não aparecerão numa imagem IRR. E quaisquer partes de uma pintura realizadas com um médium que seja opaco a IR também não fornecerão qualquer informação. Adicionalmente pode ser difícil gerar contraste suficiente em imagens IR sem um processamento digital significativo, o que pode introduzir mais erros e artefactos.

Há sistemas IRR disponíveis no mercado, que normalmente são mais baratos do que sistemas de fotografia IR. Um destes sistemas IRR está disponível a partir da Art Innovation.

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ARTIST – é um gerador de imagens multiespectral que consegue providenciar simultaneamente imagens de UV, campo visível e IR, de um trabalho. Ter equipamento como este disponível no mercado significa que qualquer laboratório forense de média dimensão teria capacidade para pagar um sistema IRR.

O futuro da tecnologia IRR é o IRR multiespectral. Com o IRR multiespectral, são utilizados simultaneamente múltiplos detetores de IR, sensíveis apenas a pequenas partes do espetro IR. Desta forma, temos acesso a múltiplas imagens, cada uma de porções diferentes do espetro IR, e todas ao mesmo tempo. Isto poderá ser extramente informativo, dado que os diferentes materiais serão transparentes ou opacos em diferentes partes do espetro IR. Com a utilização do multiespectral, é possível obter uma ideia muito mais clara dos materiais e pigmentos que foram utilizados por baixo da própria pintura.

Numa consideração final, a refletografia de infravermelhos pode ser uma ferramenta forense útil para uma variedade de projetos. E, com o advento dos sistemas imagéticos que combinam IR com imagens de luz visível, o IRR está também a tornar-se um método de análise mais economicamente eficiente.

 

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